TRABALHO NO MAR


   Quando se fala do caro que é o peixe, ao momento recorre-se ao dura que é a vida dos marinheiros, e ilustra-se com algum vídeo de algum barco capeando um temporal no Gram Sol ou Terranova. Mas quando um barco abanea no meio do temporal os marinheiros descansam, com todo o perigo que isto tem, nom é aí onde está o pior do seu trabalho.

   O ritmo da vida abordo nom o marcam nem o relógio, nem o sol. O peixe determina todo, e som a largada e a virada os que marcam as horas de trabalho e descanso. A jornada laboral de oito horas?, aqui o horário nom existe. Isso se nom se embarra e vem o aparelho destroçado e há que reparar, ou se perde umha cacea de palangre ou nasas... Longe da casa durante meses, com umha conexom por satélite muito cara e passando a vida longe dos teus. As horas de trabalho ou sono nom importam, há que largar, virar ou processar peixe, as únicas horas sagradas som as da comida, único momento de descanso. A humidade e o frio som as companheiras permanentes, por muito a coberto que se trabalhe no parque de pesca as maos estám permanentemente em contato com a água do mar, em Terranova por exemplo 4 graos de temperatura. É verdade que há coeficiente redutor (coeficiente que reduze os anos de cotizaçom, por exemplo 0,40 som quatro meses mais cotizados por ano trabalhado), mas este viu-se reduzido de 0,40 até em alguns casos 0,25, quando nos palangreiros e arrastreiros congeladores baixárom de 0,40 a 0,30 ou 0,25 o coeficiente por obra do I.S.M. (Instituto Social da Marinha). Em que condiçons físicas está umha pessoa que leva no mar mais de 30 anos???, nom há mais que ver as revisons médicas e a longa lista de problemas de todo tipo criadas pola dureza do trabalho. E ainda há quem nom entende porque a gente nova nom quere ir ao mar, antes ainda se compensava em parte com umha diferencia salarial que a dia de hoje nom existe.

   Mas se o trabalho na grande altura é duro também o é na altura ou os barcos que andam ao dia. Nom só a taxa de acidentes laborais, a quantidade de marinheiros que nom voltam a casa que segue a ser um número inaceitável, e todo isto com coeficientes redutores ainda menores, no caso do dia 0,15.

   Mas que há da gente que está em terra, que trabalha no marisqueio por exemplo, tanto a pé como desde embarcaçom?. Trabalho este totalmente manual e com muito esforço físico, ademais de ter que suportar a meteorologia no se próprio lombo, nem a maré nem as amêijoas entendem de frio ou calor, o ritmo é determinado só polas marés. Também há que ter em conta que o trabalho hoje nom se limita à simples extracçom, para poder apanhar marisco antes fam-se traslados, limpezas sementeiras... Onde estám as enfermidades profissionais reconhecidas?, ou é que nom as há?. O coeficiente redutor para este caso é ridículo 0,10, um ano por cada dez cotizados, em que condiçons físicas está umha pessoa aos 60 anos para poder tirar de um ranho?. E no percebe com o mesmo coeficiente!, com 60 anos a gavear polas rochas?, a escapar das ondas?, ir carregado com os percebes ao lombo rochas arriba. Com que seguridade se pode trabalhar quando tés o corpo destroçado de trabalhar tam duro tantos anos?. E no mergulho, ouriço, peneira, anemone, algas ou navalhas som capturados debaixo do mar já seja a pulmom ou com subministro de ar (com garrafas ou compressor), estamos nas mesmas condiçons.

  Nom se trata de heróis, trata-se de pessoas, mas que tenhem o direito a viver e trabalhar como o resto, numhas condiçons dignas. No nosso pais um coletivo muito importante. E isso é o que falta reconhecimento das enfermidades laborais, coeficientes redutores dignos que permitam a reforma numha idade adequada, e nom por em risco a vida innecessariamente. Condiçons e direitos adequados à dureza do trabalho que permitam umha vida e umha reforma dignas.