Nada que ver


Se lhes digo que estava eu a ler —há cousa de dous anos— uma novela policial sobre um assassino psicopata, a cousa não parece moi interessante.

Se lhes digo que o bom era o ambiente pode parecer algo mais interessante. A ver: há uma via rápida de entrada á capital que vai arrasar um jazigo arqueológico, que inclui desde um santuário da Idade de Bronze até os restos dum castelo. Também há um arqueólogo que dorme numa tenda no bosque, a pé do jazigo, para evitar saqueos e vandalismo.

Pode que digam que não é para tanto, mesmo algo tópico.

Se lhes digo que a mais há companhias, com sé em paraísos fiscais, que compraram as terras para construir nelas e o conseguiram. E há labregos que intentaram recalificar as mesmas terras e não o conseguiram; e ao final tiveram que vender. E que por isso a via rápida vai passar si ou si, e tanto tem o que leve por diante. Então já me vão dizer que o novelista passou-se de enxebre. E si, mesmo há uma frase tipo: a terra é uma obsessão deste país.

Se ainda lhes digo que, dos três polícias do caso, dous vivem alugados porque não podem pagar uma hipoteca isto já começa a soar familiar de mais. Mesmo há um diálogo em que um dos detectives di aos outros mais ou menos isto:

— Este país não tem remédio. Estão a nos governar dous partidos que são igual de fachas. E a gente vota um ou outro dependendo de em que bando estivo seu bisavô na guerra civil, ou com cal dos caciques se leva melhor. Aqui não há ideologia!

— Não digas parvadas oh! Sobres para todos, essa é a ideologia!

Aqui queda claro que o novelista não se matou nadinha coa ambientação. Com ver um par de programas sobre Bárcenas pensou que já cumprira.

E seria assim salvo por um pequeno detalhe: que a história é de vários anos antes do caso Bárcenas. A novela é dunha autora norte-americana nacionalizada irlandesa, chamada Tana French e o título original é In the Woods (2007), que significa: nos bosques, e indirectamente, em perigo. Foi traduzida ao Português como No Bosque da Memória —um dos protagonistas estivo implicado num crime nesse lugar—, e ao espanhol como El silencio del bosque —não me perguntem porquê—.

E essa cidade tão enxebre na que passam todas essas cousas tão galegas: Dublim.

Mas não se deixem enganar por alguns parecidos sem importância. Na novela fica perfeitamente claro que os sobres dos subornos são marrões e, todos sabemos, que os subornos no estado espanhol vão em sobre branco. E todo o mundo sabe que aquilo de Castelao: como em Irlanda levanta-te e anda. É resultado duma obcecação, que tinha a Geração Nos, de ver celtas por todas partes e não duma comparação da estrutura social da Irlanda e da Galiza.

Porque aparte dalgumas coincidências sem importância coma a de terem sido colonizadas por um país vizinho,ou ter um movimento de labregos que pretendiam quedar coas terras que trabalhavam —e quedarom com elas— e catro cousinhas assim, não há mais nada. Como todo o mundo sabe as duas sociedades não tem nada que ver.