L’America dimenticata, as vezes a ciência não avança

L’America dimenticata, as vezes a ciência não avança

Para variar um pouco co tema de falamos hoje dum livro titulado L’America dimenticata (A América esquecida), dum científico e investigador sobre a história da ciência chamado Lucio Russo, publicado em italiano por Mondadori no 2013. A tradução por estos pagos não existe nem está na agenda.

O livro é uma continuação dum livro anterior: La revoluzione dimenticata de 2007. A tese desse livro era que a ciência já fora inventada na época helenística e que uma boa parte dela se perderá trás da conquista romana da Grécia. As implicações de todo isto dariam para vários artigos, com que imos centrarmos no caso da geografia, que é o que trata L’America dimenticata.

Neste livro o autor vai centrar-se no colapso cultural produzido no momento em que Roma se converteu em dona do Mediterrâneo Oriental, entre o 146 e o 145 ane, e a discontinuidade nos conhecimentos geográficos que isso vai produzir. A modo de exemplo há 200 anos entre as derradeiras observações astronómicas de Hiparco, pouco depois da conquista romana, e as seguintes já no século II da nossa era, pouco antes de Ptolomeu. Que houve um colapso científico e cultural nesse momento é a tese da primeira metade da obra. A explicação de por que nunca se fala del é que não coincide co derrubamento dum império senão coa ascensão de um novo que seria Roma. A destruição de Cartago no 146 ane, com a prática totalidade da sua cultura seria um exemplo do que estamos a falar, o assassinato de Arquimedes depois da toma de Siracusa pelos romanos seria o caso mais conhecido.

A idea mais importante do livro, e a mais olvidada na maioria dos estudos, é que a ascensão de Roma a potência dominante supuxo a destruição da cultura do helenismo. O pouco que sobreviveu foi depois reivindicado pelas posteriores gerações de eruditos romanos dous ou três centos de anos mais tarde. Mas estes eruditos, mesmo os mais importantes como Plinio o Velho, já não compreendiam bem a ciência helenística.

Entre os conhecimentos perdidos estaria segundo Russo o da situação das Antilhas. Chega a esta conclusão analisando o erro sistemático na longitude das localidades do Mediterrâneo que Claudio Ptolomeu incluiu no seu atlas, demasiado perto unhas de outras. Este erro é surpreendente por ser numa zona bem conhecida dos gregos e porque implica umas dimensões da Terra bastante menores das reais. Aqui compre recordar que as dimensões da Terra foram calculadas por outro científico grego da escola de Alexandria, Eratosthenes, e cima precisão notável ainda para hoje.

Ao corrigir este erro para a localização das Ilhas Afortunadas, que aparecem na longitude de Cabo Verde mas no interior de África, o resultado corrigido não corresponde coas Canárias mas coa situação das Pequenas Antilhas. Trata-se das primeiras ilhas do Caribe com que toparia um barco que navegasse desde África a América, de feito são as primeiras que achou Colón. Logo, o cálculo errado de Tolomeo implica o conhecimento das pequenas Antilhas e provavelmente do resto do Caribe, mas não sabemos certo de quem procedia este dato.

Não se trata dum caso único, e Russo cita bastantes fontes gregas e romanas que falam de terras do outro lado do Atlântico. Mas essas fontes eram consideradas lendárias ou pouco fiáveis. O trabalho de Russo obriga a tomá-las em sério.

As escavações em L’Anse aux Meadows provaram já sem assomo de dúvida, que os Vikings chegaram a Terra Nova no século XI. Não sabemos canto tardaram os pescadores de baleias e bacalhau em os seguir. Em calquera caso os médios de navegação e de orientar-se de que dispunham os escandinavos na Idade Média não eram mais avançados dos que tiveram os fenícios e cartagineses, mais bem o contrário. Se uns puideiras chegar a América, os outros também.

O esquema dos ventos e correntes do Atlântico para um barco de vela que navega desde as Canárias ou Cabo Verde em direção a América obrigaria a esse barco a voltar bastante mais ao norte, na latitude das Azores como fizera Colón. E as implicações para a navegação a América já as conhecemos: o primeiro barco em chegar de volta foi a Pinta, a Baiona.