Almagro está a trabalhar com os EUA contra a Venezuela

Almagro está a trabalhar com os EUA contra a Venezuela

Uma interessante análise que passa pela situação na Venezuela, Argentina e Médio-Oriente, e também pela situação interna dos EUA, onde a Polícia Federal persegue os imigrantes indocumentados com a violência e o arbítrio de uma polícia secreta.

“É uma situação muito grave a que existe na Venezuela” advertiu esta 2ª feira 4 de Janeiro em Radio Centenario o sociólogo norte-americano, professor James Petras, na sua coluna semanal em que analisa a conjuntura internacional. Disse a esse respeito que existe “uma coordenação estado-unidense, com uma campanha nos meios de comunicação, condenando a decisão judicial de impugnar três deputados da oposição e um deputado oficialista por terem sido “eleitos graças a luvas e corrupção” e “estão a convocar para hoje manifestações procurando provocar violência nas ruas”. Acrescentou que o secretário-geral da OEA, Luis Almagro “é parte dessa conspiração contra o Poder Judicial e o governo de Maduro, procurando evitar um processo judicial que defina se os eleitos em Amazonas foram eleitos livremente ou pela compra de votos”. Além disso, referiu-se à situação no Medio Oriente, aos avanços sírios contra o terrorismo e denunciou as
“medidas ditatoriais” do Presidente da Argentina. Transcrevemos a coluna de James Petras.

Efraín Chury Iribarne: James Petras bem-vindo a Radio Centenario, começando o ano 2016.

James Petras: Bons dias, estamos aqui congelados com -5º.

Efraín Chury Iribarne: Muito frio. Temos para começar o tema da Arabia Saudita, que segundo órgão de informação “uma vez concluídas as suas missões, assassina os seus mercenários no Iémen, para impedir a fuga de dados militares confidenciais”; ao que se soma que “a execução de um Clérigo reaviva tensões na região”. ¿Como vês esta situação?

James Petras: A Arabia Saudita é maior violador de direitos humanos e das liberdades em todo o Medio Oriente sem excepção. Há muitas violações na Turquia, Israel e outros países; mas o rei Salman bin Abdulaziz, que matou, decapitou 45 pessoas há uns dias, incluindo o clérigo que mencionaste, é um dos principais no mundo.

E na sua grande maioria é gente que simplesmente expressou críticas ao regime, alguns simplesmente levantaram a sua voz em prol de mais democracia; e o clérigo que mataram, o clérigo xiita Nimr Bager Al Nimr, era uma pessoa que nunca levantou uma arma. Era um Clérigo que tinha posição crítica mas era defensor da democracia e apoiante do direito de todos os cidadãos, incluindo o dos seus correligionários xiitas.

A Arabia Saudita tem um regime que concentra milhares de milhões de dólares do petróleo apenas numa família, e não poderia manter esta concentração de riquezas se houvesse maior democracia. Se a família real perde o poder, perdem os seus privilégios e a sua grande concentração de riquezas. Por isso é que esse país não tem a sua própria Defesa, dependem dos Estados Unidos e de exércitos mercenários, inclusivamente recrutados em Colômbia e paramilitares latino-americanos.

Não existe uma pessoa minimamente decente que apoie a Arabia Saudita. São um governo ao qual falta todo o apoio para além dos que lhes vendem armas como a Europa, França e Inglaterra; e os Estados Unidos. São os únicos que apoiam a Arabia Saudita, inclusivamente estes governantes têm em privado uma atitude muito negativa mas mantêm-se em silêncio devido aos negócios.

Efraín Chury Iribarne: O Ministro da Defesa de Colômbia, Luis Carlos Villegas, queixou-se de que seduzem soldados colombianos para os levar, mas na realidade sustenta que isso deveria fazer-se entre governos. Isto é grave ¿não é?

James Petras: Sim, porque a Arabia Saudita paga-lhes salários bastante altos, e os governantes querem estabelecer um contrato para cobrar comissões. Quer dizer que o governo pretende receber uma percentagem do que a Arabia Saudita paga por cada mercenário colombiano. Encaram-no como um negócio milionário, uma colaboração comercial entre os governantes de Colômbia e de Arabia Saudita.

Mas devemos analisar algo mais da Arabia Saudita, porque é o centro de todos os terroristas no Medio Oriente e mais além ainda.

A Arabia Saudita financia e arma terroristas talibans no Afeganistão; financia os terroristas na Líbia, continua financiando os terroristas na Síria juntamente com os turcos; invadiram o Iémen; e agora temos o caso do Paquistão outra vez, onde os terroristas wahabis dos grupos extremistas recebem subvenções da Arabia Saudita.

Então devemos dizer que o eixo do terrorismo no mundo, para além dos Estados Unidos, é a Arabia Saudita. E devemos anotar um facto: durante a Hajj - que é a peregrinação muçulmana - morreram 450 iranianos devido à falta de organização da Arabia Saudita e suspeita-se que os sauditas planearam que este evento tivesse esse resultado trágico.

Então, em todos os lados podemos ver a mão da Arabia Saudita. E tenho a ideia que muitos especialistas no 9/11, os atentados nos Estados Unidos, quase todos os terroristas eram da Arabia Saudita e as suas famílias receberam dinheiro dos mil milionários sauditas; mas, com os vínculos que tinham com a família Bush, permitiram-lhes sair do país, refiro-me aos que financiaram os terroristas.

Efraín Chury Iribarne: A Síria parece estar combatendo a pé firme o terrorismo com o apoio russo.

James Petras: A solicitação de ajuda à Rússia teve um enorme efeito porque atacaram os terroristas do ISIS, provocaram muitos danos nas suas fontes de financiamentos, aos camiões que transportavam o petróleo desde a Síria e o Iraque para a Turquia, que recebia um milhão de dólares por dia com esse negocio. E quando a Rússia começou a intervir e a bombardear esse transporte, reduziu em grande escala os rendimentos do ISIS e debilitou a sua capacidade para mobilizar tropas e alimentos para fomentar outras ofensivas. Então, as novas armas e o apoio que o governo de Bashar Al Assad recebe da Rússia, facilitaram o avanço das tropas e a derrota dos terroristas. A combinação de estabilidade e a falta de apoio ao ISIS, porque antes os Estados Unidos diziam que estavam contra os terroristas mas não tocavam nestes rendimentos petroleiros. Poderíamos explicá-lo em que os EUA estavam mais contra Bashar Al Assad do que contra ISIS, apesar do que diz o presidente Barack Obama.

,Efraín Chury Iribarne: O secretário da OEA, Luis Almagro, voltou a atacar a Venezuela. ¿Intensifica-se a acção da OEA contra a Venezuela?

James Petras: Sim, porque aqui há uma coordenação e devemos tocar este tema. Na Venezuela há neste momento uma grande pugna entre o Poder Judicial e a nova Assembleia Legislativa. A oposição quer impor alguns candidatos eleitos a partir de luvas e de corrupção. Por isso o Poder Judicial venezuelano impugnou quatro deputados eleitos, três da oposição e um oficialista. Este conflito entre o Poder Judicial e o Poder Legislativo pode ter enormes ramificações porque a oposição não vai aceitar a decisão judicial. Porque se a oposição perde três deputados não vai ter a maioria óptima para impugnar a Presidência de Nicolás Maduro.
Então estão a convocar para hoje manifestações procurando provocar violencia nas ruas.
É uma situação muito grave a que existe na Venezuela.

Há uma coordenação estado-unidense, com uma campanha nos meios de comunicação, condenando a decisão judicial. A atitude de Almagro é parte deste plano de desestabilizar o governo, impugnar a decisão judicial, tratar fomentar um levantamento violento, e talvez procurar a forma de provocar um golpe de Estado.

Então Almagro é parte dessa conspiração contra o Poder Judicial e o governo de Maduro, procurando evitar um processo judicial que defina se os eleitos em Amazonas foram eleitos livremente ou por compra de votos.

Efraín Chury Iribarne: ¿Pareceria que Almagro trabalha para os EUA?

James Petras: Está trabalhando com os EUA contra a autodeterminação dos países na América Latina. Está a tratar de voltar a reproduzir a política das colonias norte-americanas que actuam a favor dos EUA e os países imperiais e creio que neste sentido deve ser desmascarado, porque neste momento em que estamos a falar cresce a tensão na Venezuela. Há uma crise tremenda, ninguém sabe o que estão a planear. Estão a tratar de mobilizar gente para impedir o processo judicial. E o Presidente actual da Assembleia não vai aceitar os impugnados, mas a oposição diz que está decidida a incluí-los no Congresso. Por isso talvez o próprio Congresso vá ser o detonante de um enorme conflito, uma conflagração violenta.

Efraín Chury Iribarne: ¿Há algum outro tema que queiras comentar hoje?

James Petras: Sim, dois temas. Há alarme pelas detenções de indocumentados nos EUA nesta semana em que começa o novo ano. Várias famílias denunciaram que as autoridades norte-americanas arrombam portas, expulsam famílias, e isto provocou grande inquietação em Los Angeles e outros centros onde estão concentrados os imigrantes, porque a Policia Federal está a tomar medidas como se fosse a Policia Secreta de qualquer país. É um tema que há que analisar.

O outro tema é como (o presidente argentino Mauricio) Macri está a actuar como um ditador da época do processo, como dizem na Argentina. Manda por Decreto. Está a tratar de despedir milhares de funcionários, quer nomear membros do Supremo Tribunal apesar de o Presidente não ter a prerrogativa de tomar decisões independentemente do Congresso.

Está a mudar a Economia, há desvalorização da moeda, baixa o rendimento real dos trabalhadores entre 25 e 30%; Macri pensa que pode impor as suas políticas independentemente do congresso, onde são minoria e são minoria nos sindicatos e em todas as organizações sociais, actuando por Decreto segundo os métodos da ditadura.

As eleições foram simplesmente um trampolim para tomar o poder e depois actuar como um ditador.

Não sei como vai terminar o assunto na Argentina, porque começa com conflitos institucionais e depois poderia transferir para a rua conflitos violentos entre o ditador Macri e a sociedade civil argentina. Já terminou a estabilidade e a paz e entramos num período de violencia e repressão.

[Publicado en Odiario]

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Nota da Fundación Bautista Álvarez, editora do dixital Terra e Tempo
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