Celtas na Galiza: Ferdinandus e os amieiros

Celtas na Galiza: Ferdinandus e os amieiros

O problema


Há na Península uma serie de nomes como Ramiro, Rodrigo, Fernando, Afonso que os autores de fora consideram caracteristicamente espanhóis, ainda que são igual de comuns em galego-português. Segundo as etimologias ao uso, a maior parte deses nomes são de orige germânico. O curioso é que esses nomes não são comuns na maioria dos países de língua germânica. Supõe-se que são de orige visigótica, mas a maior parte não figuram na documentação visigoda e aparecem por primeira vez no território do reino suevo —Rodrigo é uma notável excepção—.
Como exemplo tomaremos o nome Fernando. Supostamente dum gótico *firthu-nands, no que firthu quer dizer paz e nands significa audaz ou atrevido. Há todo tipo de interpretações do nome como “atrevido na paz” —na guerra teria algo de sentido— ou “o que se atreve a todo para defender a paz” —em serio?—.

Existe uma forma latina ferdinandus que seria a orige do nome Ferdinand que aparece na França, Grande Bretanha, Alemanha etc. Se a forma germânica não derivasse da forma latina esta última havia amosar mais diferencias. Um exemplo á contra seria o câmbio do nome germânico Hermann e a sua forma latinizada Hermínio/Arminius. A maiores, o nome Ferdinand só se pode considerar comum na Áustria e as regiões católicas da Alemanha; e mesmo aí por ser um nome dinástico da família Habsburg —a Casa de Áustria dos livros de história da Espanha. Como entrou na casa de Habsburg? polo emperador Fernando I, o irmão e sucessor de Carlos V, nascido em Alcalá de Henares e criado em Castela.

,Os curiosos parecidos.

O primeiro é que o nome medieval não era Fernando. Na península o nome aparece com três formas: Fernão/Fernán na área galego-portuguesa e leonesa, Hernán na castelá e, fora da nossa área linguistica, Ferran na catalã. As três parecem bem mais antigas que Ferdinand.

Onde há algo parecido? na Irlanda. E não há que buscar moito.

Um caso famoso seria o director de cine John Ford, que escrevia seu nome irlandês Sean Aloysius O’Fearna. A família usara antes as formas Feeny e O’Feeny, mas recuperaram a forma O’Fearna ao retomar o contacto coa Irlanda (ver http://www.ofearna.com/). O’Fearna significa “descendente de Fearna” o que implica que houve um nome Fearna na Irlanda medieval, que se escreberia e pronunciaria como Ferna. O apelido tem duas formas: O’Fearna para homes e Ní’Fhearna para mulheres —isto é comum nos apelidos gaélicos—. O ‘fh’ é resultado dum processo chamado lenição e, ao igual que a nossa ‘h’, é mudo.

Fearna é um derivado de fearn que é o nome do amieiro ou ameneiro (alnus glutinosa) e da letra ‘F’ do alfabeto ogham. Neste artigo não podemos ocuparmos da importância, tanto prática como simbólica, do amieiro na cultura celta; baste sinalar que a tem.

As palavras que começam por ‘f’ no irlandês correspondem coas palavras britonicas que comezam por ‘gw’, e as latinas e romances que começam por ‘v’. Por exemplo o latim vir (home) equivale ao antigo irlandês fir. O gaélico fearn —em irlandês antigo fern—corresponde co galês gwern e co celtismo verne em vários dialectos do francês. Edward Dwelly cita um derivado: feàrnach, lugar de amieiros.

O apelido Fearn existe também na Escócia. Há apelidos equivalentes nos outros países celtas. Por citar só os mais conhecidos:

- Verne e comum no francês dialectal para designar ao amieiro e como apelido. O significado ainda é transparente no francês moderno. Cando o escritor Jules Verne marchou da casa familiar deixou uma nota: Agora se verá de que madeira estava feito este Verne.

- Existe na Inglaterra o apelido, de orige normando, Vernon, que tem a mesma orige e significaria “lugar de ameneiros”. Também é comum como nome de home. Observe-se que a pronuncia não é tão diferente de Fernão como parece pola escrita.

Como se bota de ver há nomes e apelidos semelhantes por toda a fachada atlântica da Europa, e todos eles se tenhem por celtas. Menos na Península que seica somos todos visigodos.