O surpreendente ADN de Tutankhamon

O surpreendente ADN de Tutankhamon

O cromossoma Y é o cromossoma masculino, só o tem os homes e herda-se de pai a filho, o que permite fazermos uma ideia da procedência e antiguidade duma linhagem. As linhagens tanto masculinas como femininas nomeam-se por uma combinação de letras e números. Assim, na Europa, temos linhagens masculinas como R1b (Europa Ocidenta) R1a (Europa Oriental) I1 (Escandinávia) I2 (Balkans). As sub-linhagens nomeam-se habitualmente pola mutação que as define. Assim por exemplo R1b v–88 ou R1b m–269, das que imos falar depois.

Os resultados obtidos das momias de Tuthankhamon, seu pai Akhenaton (a múmia KV–55) e seu avô Amenophis III coincidem em que estes três faraós tinham um cromosoma Y pertencente à linhagem R1b. Assim mesmo, a comparação do genoma dos três (pai, filho e neto) permitiu reconstruir as sequências que faltavam a cada um e obter um genoma bastante completo e, em princípio, também moi fiável. Seriam os derradeiros faraós da dinastia XVIII

O ministério de antiguidades do Egipto publicou recentemente os resultados como R1b sem mais detalhes, (aqui) o que não seria tão extraordinário. Há várias sub-linhagens de R1b em Africa e Oriente Medio. As mais importantes são:
  • R1b Z2103. Há uma mostra em Israel do1300 ane, da época da dinastia XVIII. Esta linhagem deveu entrar no Oriente Medio anteriormente, a data suposta é por volta do 2000 ane. Segue a existir no Iraq, no leste de Turquia, e na Armenia em cifras do 15% ao 30%.
  • R1b V88 é uma linhagem que apareceu na Europa, a mostra mais antiga na Península é dum home de há 6.200 anos em Catalunya e há casos mais antigos em Sardenha e nos Balcãs. Mas esta linhagem é case inexistente na Europa actual e, pola contra, moi frequente em partes de Africa, principalmente arredor do Sahara. Mas há populações com este haplogrupo que chegam até Namibia. As maiores porcentagens acham-se nos Hausa do Norte de Nigeria e ainda maiores em zonas do Norte de Camerun, onde chega ao 95%.

Se se tratar duma destas linhagens a cousa não teria nada de estranho, mas não é. A sub-linhagem, que se pode deduzir dos dados, não é a que um esperaria. É uma linhagem do Oeste da Europa relacionada coa Cultura do Vaso Campaniforme.

Antes de que alguém começar a mal-interpretar os resultados, isto não quer dizer que Tuthankhamom fosse Europeu, a linhagem paterna só é uma parte do genoma duma persoa, e o resto do genoma não tem nada de particular para um egípcio da sua época e posição social. A dinastia XVIII, da que forma parte, começou arredor do 1550, mais de douscentos anos antes da coroação de Tuthankhamom. E, se a sua família procedia da Europa devia levar tempo no Egipto antes de se converter em faraós.

A linhagem que se pode reconstruir é uma variante da linhagem principal dos Bell Beakers, a Cultura do Vaso Campaniforme. (aqui) Essa cultura ocupou a maior parte da Europa e zonas do Norte de Africa e acharmos uma das suas linhagens na Dinastia XVIII do Egipto implica que houve algum tipo de intercâmbio entre as duas culturas. O final do Vaso Campaniforme solapa co começo da dinastia XVIII do Egipto, assim que isso não supõe uma grande dificuldade.

Há uma a família na Cornualha que tem exactamente a mesma linhagem. O autor deste blogue dá muita importância a que esta família era de origem normando e podia ter relações com Sicilia. Mas, ao meu parecer, a Cornualha é um sítio perfeito para achar esta linhagem. Outro seria a Galiza, o que não quer dizer que exista. O motivo está no mapa seguinte:


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O mapa procededeste artigo no Times of Israel, no que se constata que vários objetos de bronze dos séculos XII e XIII ane, aproximadamente da época de Tutankhamon e a sua dinastia, contém estanho procedente da Cornualha, e isto é a primeira prova que se faz. Não há notícias de que algum tivesse estanho da Galiza mas, como se vê no mapa, não seria estranho que aparecesse mais de um.

Em que nos afecta todo isto? Em que para fazermos uma idea da nossa história e pré-história é preciso ter em conta que estamos no caminho desta rota do bronze. E a partir dela como há que interpretar lendas aparentemente inverosímeis desde o passo dum Hércules (o fenício, não o grego) por vários pontos da Península incluída Corunha até a navegação de Santiago a Galiza. Mesmo as histórias de Breogàn e doutros personagens das lendas irlandesas que chegaram invariavelmente da Escítia (no que hoje é Ucraina e o Sul da Russia) sempre com parada no Egipto; há que começar a interpreta-las doutra maneira.