A (não) conquista da Galiza polos árabes

A (não) conquista da Galiza polos árabes

A publicação dum especial de Desperta Ferro sobre a conquista muçulmana da Hispania da-me a oportunidade de revisar como se vê esta época na historiografia espanhola para o grande público. A cousa é algo melhor do que se podia esperar, sobre todo nos dous grandes mapas. No primeiro, sobre as conquistas árabes, aparece a Galiza até o Douro numa cor diferente e qualificasse a sua conquista como duvidosa, ainda que Lamego aparece no território conquistado. No segundo mapa aparece um contínuo que vai das Rias até o Reino dos francos como fora de Al-Andalus, o que nos aforra a repetida imagem de Asturies como único território não conquistado; não é pouco. Ainda que o Sul da Galiza vem sinalado como zona de assentamento dos berberes até Tui e Ourense o que resulta, como mínimo, difícil de crer. Por tanto a cousa tem melhorado mas ainda se arrastram, restos dos prejuízos anteriores.

A Gallaecia

A Gallaecia romana tinha catro cidades fortificadas: As três capitais, Asturica Augusta (Astorga), Lucus Augusti (Lugo) e Bracara Augusta (Braga) mais a base da Legio VII Gemina (Leão). A maiores haveria outras cidades fortificadas de menor importancia em época romana que se desenvolveram na época dos Suevos e dos Godos, como Tui, Xixom Ourense etc. Todas estas cidades teriam que ser asseguradas, neutralizadas —destruindo-lhes as muralhas— ou diretamente destruídas para que um exército invasor puder controlar o território.

Sabemos polas fontes que isto sucedeu no convento asturicense, as cidades de Astorga e Leão ficaram coas muralhas destruídas, e Xixom com um governador muçulmano.

Mas que aconteceu na Gallaecia própria? De ai sabemos muito menos.

A Incursão a Lugo no 716

Há um texto árabe sobre a incursão até Lugo que se emprega para justificar a conquista da Galiza, mas não figura em todas as fontes.

Segundo as fontes muçulmanas, a cidade de Lugo foi incendiada, outros traduzem sometida. Não se menciona em parte nenhuma que os muçulmanos deixassem uma guarnição em Lugo, e está claro que as muralhas não foram destruídas porque ainda estão aí. Para entender a importância de Lugo. Um tenente do rei em Lugo acabou por ser rei em Oviedo —Ramiro I— a pesar de que na corte elegiram a outro, o conde Nepociano.

Nenhum rei de Oviedo presumiu de ter conquistado Lugo, mas a partir de Fruela, o pai de Afonso II, começam a figurar nas crónicas uns reis que não são descendentes da família real anterior e no caso de Silo, se indica que vem de fora de Asturies.

A fronteira

Não sabemos se houvo alguma outra incursão na Galiza própria. A menção, na aceifa de Al-Mansur de que ninguém entrara antes tão adentro da Galiza aponta mais bem a que não. Não há notícias de governadores muçulmanos em nenhum lugar da Galiza actual.

No Sul da Galiza temos uma série de cidades atacadas e devastadas polos árabes: Tui, Braga etc. Os seus bispos tem que fugir e se refugiar em Lugo ou em Iria. Isto indica que as ditas cidades ja não eram seguras, as suas muralhas foram destruídas em todo ou em parte. Mas nenhuma delas tem uma guarnição muçulmana nem restos arqueológicos dignos de menção dela: nem Braga, nem Lamego, nem Porto.

A linha da fronteira co Emirato a marcavam as cidades de Coimbra, Viseu, e Idanha a Velha. Estas foram conquistadas por Afonso III aos muçulmanos e voltas a conquistar por Al-Mansur. Mesmo Idanha a velha, bastante ao Sul do Douro não tem nada digno de menção da época muçulmana e não parece que o tivesse nunca.

Conclusão

Por tanto, os muçulmanos não tiveram uma presença permanente na Galiza nem ao norte nem ao Sul do Minho. A fronteira do reino estava na mesma linha de cidades que formavam a fronteira Sul do reino dos Suevos.

Isto é, o reino medieval da Gallaecia tem uma remarcável continuidade co reino Suevo da Gallaecia. As cidades da fronteira Sul: Coimbra, Viseu e Idanha são as mesmas que formavam a fronteira Sul do reino Suevo, depois de que Remismundo se apoderar delas. A loita entre o reino da Gallaecia e o Emirato de Cordova e logo do Califado é por ver quem controlar essas cidades. Não foi até 1064 cando Coimbra ficou definitivamente conquistada, depois de varios intentos nos 70 anos anteriores. E depois delas o objetivo era Santarem igual que na época dos Reis Suevos.

Todo isto que se menciona no artigo não é nenhuma novidade. A maior parte já figura nos livros de Camilo Nogueira, A memória da nación, (Xerais 2001) e de Anselmo López Carreira O reino medieval de Galicia, (A Nosa Terra 2005). Parece que algo de isto se está a filtrar na historiografia espanhola.

Não era sem tempo!

Alberte Lago Villaverde